Sob circunstâncias suspeitas e criminosas, denunciadas tanto pela comunidade Guapoy quanto pelo Conselho da Aty Guasu – a Grande Assembleia dos povos Guarani e Kaiowá, como uma possível emboscada, três indígenas Kaiowá-Guarani sofreram uma investida violenta, na tarde desta quinta-feira (14) por parte de homens armados. O crime resultou no assassinato de Márcio Moreira e deixou duas outras lideranças feridas devido às agressões.
Márcio e os outros dois indígenas, que por segurança não serão identificados, são lideranças da retomada Guapoy, em Amambai, no Mato Grosso do Sul. O fato leva os indígenas a apontarem a possível motivação do crime vinculada à retaliação contra a ação de retomada e/ou a repercussão negativa em relação aos polícias e ao Estado, protagonistas do “Massacre de Guapoy”, como tem sido chamado pelos indígenas.
Os indígenas, inclusive um dos sobreviventes, afirmam que Márcio havia recebido uma proposta de trabalho no ramo da construção civil, o qual demandaria de mais dois serventes de pedreiro para auxiliar na construção de um muro. Conforme relatos dos indígenas, Márcio foi chamado por um conhecido local e, por sua vez, chamou as outras duas lideranças para ajudar no serviço.
“O crime resultou no assassinato de Márcio Moreira e deixou duas outras lideranças feridas devido às agressões“
“Fomos convidados para levantar um muro e fomos até o local com nossas ferramentas. Encontramos uns karaí [não indígenas] que passaram a intimidar a gente. Márcio se levantou e olhou bem para eles, que sem falar nada jogaram nossas ferramentas”, conta uma das vítimas.
Segundo os próprios indígenas, eles foram abordados por dois homens em uma moto, munidos com armas de fogo, e que já chegaram ao local com intimidações e agressões verbais contra os indígenas. Em seguida, realizaram os disparos contra Márcio e as outras duas vítimas. O jovem Guarani Kaiowá, que conseguiu fugir do local, conta que foi segurado e os três foram intimidados.
“Nos intimidaram com as balas, mostraram com pistola de cano curto e bateram em nós, jogando no meio dos caraguatás [planta espinhosa], em seguida atiraram no Márcio e nos deitamos, como a munição acabou, eles nos bateram com a arma, e eu fugi deles”, relata um dos sobreviventes.
Márcio Moreira – uma das liderança na luta pela recuperação do Território de Guapoy, foi assassinado nesta quinta-feira (14). Foto: povo Kaiowá-Guarani
Após os disparos, houve luta corporal e um dos indígenas conseguiu fugir do local, o outro foi ao hospital de Amambai para atendimento. Márcio correu cerca de 100 metros sangrando, mas não resistiu aos ferimentos e morreu. Haveria, ainda, uma quarta testemunha que presenciou o ataque e que, por segurança, não será identificada. Os Kaiowá-Guarani temem um novo ataque contra os sobreviventes e esta testemunha.
Segundo o corpo de bombeiros, que atendeu a ocorrência, ao chegar ao local Márcio já estava sem vida. Foram identificadas pelo menos duas perfurações: uma de arma de fogo no ombro, e outra de arma branca no tórax, o que reforça as denúncias dos sobreviventes sobre a luta corporal após os disparos de arma de fogo.
Os Guarani e Kaiowá suspeitam que o ataque possa ter sido planejado para assassinar as três lideranças do tekoha (lugar onde se é) Guapoy. “Não se tratou de trabalho, foram recebidos já com agressões. Foi uma emboscada para assassinar os três, uma chacina”, destacou a Aty Guasu – a Grande Assembleia dos povos Guarani e Kaiowá.
O caso segue sob investigação. A suspeita é de que haja relação com os recentes conflitos de terras, envolvendo indígenas e fazendeiros da região, em Amambai (MS).
FONTE : ASSESSORIA DE COMUNICAÇÃO CIMI