Pesquisa da organização social Poiesis sobre a cena literária das periferias paulistas aponta que mulheres jovens formaram 70% do público leitor nas oito unidades das Fábricas de Cultura analisadas entre janeiro de 2024 e junho de 2025. O índice supera a média nacional de leitoras, de 61%.
O levantamento mostra ainda que, em 2024, a média mensal de empréstimos por biblioteca foi de 197. Entre os interesses identificados estão mangás, literatura negra, LGBTQIAPN+, indígena, além de clássicos e best-sellers contemporâneos.
Foram estudadas as bibliotecas das Fábricas de Cultura em Brasilândia, Capão Redondo, Diadema, Iguape, Jaçanã, Jardim São Luís, Osasco e Vila Nova Cachoeirinha. O acervo dessas unidades reflete gostos diversos: sagas japonesas como One Piece e quadrinhos de horror de Junji Ito convivem com obras de Fiódor Dostoiévski e peças de William Shakespeare.
O levantamento aponta que o gosto literário nas periferias não é homogêneo. Mangás figuram entre os mais lidos em Brasilândia, Iguape e Jardim São Luís. Em Iguape e Capão Redondo, títulos como Noites Brancas (Dostoiévski), Orlando (Virginia Woolf) e Macbeth e Otelo (Shakespeare) aparecem nas listas de maior procura, indicando interesse por temáticas como identidade, preconceito, saúde mental, filosofia e política.
Autores racializados e periféricos também têm forte circulação: obras como Rei de Lata, de Jefferson Ferreira, e Olhos d’Água, de Conceição Evaristo, são bastante procuradas em Osasco e Jaçanã. O estudo registra que 38% do acervo das bibliotecas é renovado mensalmente a partir de sugestões dos frequentadores, o que amplia a representatividade de vozes negras, indígenas e LGBTQIAPN+.
A predominância feminina nas consultas aparece nas buscas por títulos como Irmã Outsider (Audre Lorde), Canção para menino grande ninar (Conceição Evaristo) e Tudo sobre o amor (bell hooks), indicando interesse por narrativas de empoderamento.
As leituras locais coexistem com best-sellers: A Biblioteca da Meia-Noite, de Matt Haig, foi um dos livros mais procurados no país no primeiro semestre de 2024, e a série Diário de um Banana, de Jeff Kinney, mantém grande popularidade em territórios como Jardim São Luís, Brasilândia, Iguape, Diadema, Osasco e Vila Nova Cachoeirinha.
As Fábricas de Cultura — programa da Secretaria da Cultura, Economia e Indústria Criativas do Estado de São Paulo gerido pela Poiesis — operam como espaços de acesso gratuito voltados à ampliação do conhecimento cultural por meio de atividades artísticas e formativas. Além do empréstimo de livros, as bibliotecas promovem oficinas criativas, rodas de conversa, mediações, produções artísticas e debates que partem do acervo, buscando inserir a leitura no cotidiano dos frequentadores, majoritariamente oriundos da rede pública de ensino.
Esses equipamentos articularam parcerias com escolas públicas, Centros para Crianças e Adolescentes (CCAs), Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) e coletivos locais, atuando como polos de articulação comunitária. Segundo o levantamento, as ações reforçam o papel das Fábricas de Cultura na ampliação do acesso ao livro e na disputa contra a elitização de espaços culturais.