O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, afirmou nesta terça-feira (26) que o Brasil não aceitará negociações com os Estados Unidos que envolvam interferência em questões judiciais internas. A declaração foi feita durante evento na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), que reuniu representantes de empresas americanas (como Boeing, Salesforce e AWS) e brasileiras (entre elas JBS e Embraer).
Vieira considerou inédito, em 201 anos de relações comerciais entre os dois países, a imposição de uma tarifa de 50% sobre parcela relevante das exportações brasileiras aos EUA. Segundo o chanceler, essa medida estaria relacionada ao processo judicial envolvendo o ex‑presidente Jair Bolsonaro.
O ministro ressaltou que o assunto é tratado como questão interna do Brasil, sob responsabilidade do poder judiciário, e que o Executivo não pode intervir nesse âmbito. Ao mesmo tempo, afirmou que o governo manterá a disposição ao diálogo com os Estados Unidos, sem abrir mão da defesa da soberania e das instituições brasileiras.
Como resposta às barreiras tarifárias, o governo brasileiro começou conversas com outros países afetados pelas medidas norte‑americanas. Nas últimas duas semanas, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva teve contatos com líderes da Índia, China, México e França, entre outros, segundo o Itamaraty.
O Brasil também pretende iniciar discussões para uma reforma estrutural da Organização Mundial do Comércio (OMC), visando uma “refundação” da entidade com bases mais modernas e flexíveis. Na relação com os EUA, o governo defende a separação entre questões comerciais e políticas como caminho para uma solução satisfatória.