No início de 2022, a professora aposentada Claudete Felix de Souza, 65 anos, começou a sentir dores nas costas que a impediam de dormir. Em recuperação de uma infecção por chikungunya, ela atribuiu inicialmente o incômodo à doença, mas a dor persistiu e evoluiu para dificuldade respiratória.
Após sessões de fisioterapia e consultas com vários especialistas, um cardiologista identificou redução da capacidade pulmonar e acúmulo de líquido. Encaminhada ao serviço de emergência, Claudete recebeu o diagnóstico de câncer de pulmão. A paciente nunca foi fumante.
Ela precisou ser internada e submetida a biópsia. Foi acompanhada por um oncologista e iniciou tratamento com o medicamento Tagrisso 80 mg, cujo custo foi coberto pelo plano de saúde. Atualmente o quadro está sob controle. Antes do diagnóstico, Claudete relatava manter hábitos alimentares razoáveis e alguma atividade física.
Dados e contexto técnico
Pesquisadores do Instituto Nacional do Câncer (Inca) e especialistas apontam que cerca de 15% dos casos de câncer de pulmão ocorrem em pessoas que nunca fumaram. A redução do tabagismo no Brasil e no mundo vem diminuindo a mortalidade por câncer, inclusive por câncer de pulmão, mas isso tem levado a maior atenção para os casos em não fumantes.
Quando tratado como entidade própria, o câncer de pulmão em não fumantes ocupa atualmente a sétima posição entre as causas de morte por câncer no mundo, atrás do câncer de pulmão em fumantes, do câncer de estômago, colorretal, de fígado, de mama e de esôfago.
As causas desse tipo de tumor ainda não estão totalmente esclarecidas. Estudos recentes estabeleceram relação entre exposição ambiental à poluição e ao material particulado e o surgimento de câncer de pulmão em não fumantes, apontando a poluição como a segunda principal causa da doença. A exposição ao fumo passivo também figura entre os fatores associados.
Diagnóstico e tratamento
Em fumantes, o rastreamento com tomografia de tórax de baixa dose anual a partir dos 50 anos facilita diagnósticos mais precoces. Entre não fumantes, o baixo índice de suspeição — tanto por parte dos pacientes quanto dos médicos — contribui para detecções mais tardias.
Casos em não fumantes devem ser investigados com testes moleculares e sequenciamento genético para identificar mutações adquiridas que orientem a escolha terapêutica. Esses exames permitem, em muitos casos, indicação de terapias-alvo administradas por via oral, em alternativa à quimioterapia convencional.
Campanha e orientação
Agosto Branco é o mês dedicado à conscientização sobre o câncer de pulmão. A iniciativa reforça a importância de procurar atendimento médico diante de sintomas respiratórios persistentes. Diagnóstico precoce e acompanhamento por equipe multidisciplinar — incluindo pneumologista, cirurgião e oncologista — são fatores determinantes para melhores desfechos.