Uma colaboração liderada pelo Instituto Butantan e por outras 23 instituições definiu uma nova nomenclatura para as linhagens do vírus da dengue. O sistema passou a ser usado a partir de setembro de 2024 pelos participantes do estudo, entre eles Universidade Yale (EUA), Universidade de Oxford (Reino Unido), Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e o próprio Butantan. O trabalho foi publicado na revista PLOS Biology.
A proposta visa facilitar a vigilância genômica do vírus, padronizar a comunicação entre laboratórios e autoridades de saúde e permitir o acompanhamento de eventuais novas linhagens com risco epidemiológico.
Estrutura da nomenclatura
O vírus da dengue tem quatro sorotipos (DENV-1 a DENV-4) e, atualmente, 17 genótipos descritos. O novo esquema acrescenta dois níveis hierárquicos: linhagens maiores (representadas por letras) e linhagens menores (indicadas por números separados por pontos). Os genótipos continuam identificados por algarismos romanos. Um exemplo do formato é DENV-3III_C.2 — sorotipo 3, genótipo III, linhagem maior C e linhagem menor 2.
O artigo que apresentou o sistema mostra que um genótipo pode abranger vírus de vários continentes, enquanto uma linhagem específica pode corresponder a circulação limitada a uma região ou país. Como exemplo, a linhagem DENV-2II_A foi observada apenas no hemisfério oriental; sua detecção em outro continente apontaria para uma nova rota de introdução e exigiria resposta das autoridades sanitárias.
Impacto na vacinação e no monitoramento
A nova nomenclatura permite identificar mutações que caracterizam cada linhagem. Algumas dessas alterações genéticas podem influenciar a resposta imune induzida por vacinas. Com monitoramento contínuo das linhagens, é possível detectar precocemente variantes com potencial de escape imunológico e avaliar impacto sobre a eficácia vacinal, fornecendo base científica para ajustes em futuras formulações.
Cenário epidemiológico
Em 2024, países onde circulam os quatro sorotipos notificaram mais de 13 milhões de casos de dengue. O Brasil liderou as notificações com 10,2 milhões de casos, seguido por Argentina (581,5 mil), México (558,8 mil), Colômbia (321 mil) e Paraguai (295,7 mil), segundo a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS).
A dengue é transmitida pelo mosquito Aedes aegypti e, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), coloca em risco mais de 100 milhões de pessoas por ano, especialmente em países tropicais como o Brasil.