A ativista Clara Charf, viúva do guerrilheiro e político Carlos Marighella, morreu nesta segunda-feira (3) aos 100 anos, em decorrência de causas naturais. Ela estava internada havia alguns dias e foi intubada, segundo informou a Associação Mulheres Pela Paz, organização que fundou e presidia.
Charf dedicou grande parte da vida à defesa dos direitos humanos e das pautas femininas. Depois do golpe militar, ela sofreu perseguições e chegou a ser presa. Após a morte do marido, exilou-se inicialmente em Cuba e permaneceu cerca de dez anos fora do país, retornando ao Brasil em 1979 com a anistia. No retorno, intensificou sua atuação em movimentos por liberdade, igualdade e direitos das mulheres.
Na década de 1940, tornou-se comissária de bordo. Engajada desde a adolescência na política — passou a participar ativamente aos 16 anos e filiou-se ao Partido Comunista Brasileiro em 1946 —, casou-se com Marighella em 1947. Ao longo da vida, confrontou obstáculos decorrentes da repressão do regime militar.
Em 2005, coordenou no Brasil o movimento Mulheres pela Paz ao Redor do Mundo, iniciativa originada na Suíça que organizou indicações coletivas para o Prêmio Nobel da Paz naquele ano, com seleção de ativistas brasileiras entre as candidatas propostas.
Natural de Maceió (AL), Clara era a mais velha de três irmãos. Seus pais eram judeus russos que emigraram da Europa; o pai, Gdal, trabalhou como mascate. A família mudou-se para Recife, onde a mãe morreu jovem, vítima de tuberculose. Ainda jovem, vendeu jornais em um bonde e, aproveitando o domínio do inglês e estudos de piano, conquistou a vaga como comissária de bordo.
Na política partidária, foi candidata a deputada estadual em 1982 pelo Partido dos Trabalhadores. Obteve cerca de 20 mil votos, sem se eleger, e manteve sua trajetória de militância e mobilização social até os últimos anos.
Clara Charf deixa um legado de atuação em campanhas e iniciativas voltadas à promoção dos direitos das mulheres e à justiça social.




