A Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj) reuniu, na última semana de novembro, ex-alunos que ingressaram pelo sistema de cotas para mapear trajetórias profissionais e articular uma rede de egressos. A iniciativa integra uma revisão da política interna, que precisa ser novamente debatida em 2028, quando vence a lei aprovada em 2018.
A Uerj foi pioneira na adoção de cotas sociais e raciais no vestibular, em 2003. A Lei 8.121/2018 estabeleceu reserva de vagas de 20% para cotas raciais — incluindo indígenas e quilombolas — e 20% para estudantes oriundos integralmente da rede pública. Diferentemente de universidades federais, a Uerj combina a autodeclaração racial com critérios socioeconômicos para definir elegibilidade.
Pelo modelo vigente, 32 mil estudantes já ingressaram na instituição por meio das cotas. O critério de renda familiar é atualmente de R$ 2.277 de renda bruta por pessoa. Estudantes e egressos apontam que esse limite é baixo e representa um obstáculo, especialmente para quem pretende cursar pós-graduação.
No encontro, foram discutidas ações para ampliar o acompanhamento dos egressos e a disponibilidade de dados sobre o impacto da política de cotas. Também foram colocadas demandas por redução da burocracia na comprovação do perfil socioeconômico e por maior apoio a pré-vestibulares populares. A Uerj vem, portanto, mapeando carreiras e reunindo informações para orientar o debate sobre a próxima fase da medida.
Entre os participantes estava Henrique Silveira, egresso do curso de geografia, que entrou em 2006 e hoje ocupa cargo na administração municipal do Rio de Janeiro. Também participaram profissionais formados pela universidade, como uma cirurgiã-dentista que concluiu odontologia em 2013 e instalou consultório na comunidade onde cresceu, atendendo em serviços como a rede básica de saúde e o sistema prisional. Outro ex-aluno presente cursou história em 2011 e atua em defesa dos direitos humanos; ele defende a retirada do recorte socioeconômico para determinadas etapas do ensino superior.
Quando implementadas, as cotas foram alvo de críticas sobre a capacidade acadêmica dos beneficiários. Pesquisas posteriores, no entanto, não constataram diferença de rendimento entre estudantes cotistas e não cotistas. Além disso, as ações afirmativas contribuíram para reduzir a desigualdade de acesso ao ensino superior entre grupos raciais: em 2022, segundo o IBGE, 11,7% das pessoas pretas e 12,3% das pardas tinham nível superior, porcentuais que aumentaram, mas continuam bem inferiores aos 25,8% observados entre pessoas brancas.
Outra mudança trazida pela legislação de 2018 foi a permissão para acumular a bolsa-auxílio com outros auxílios, como bolsas de iniciação científica, o que foi apontado por egressos como fator que melhora as condições de permanência na universidade.
A proximidade do vencimento da lei em 2028 impõe à Uerj e aos atores envolvidos a necessidade de reunir dados e propostas para orientar a revisão legislativa. As discussões em curso devem considerar tanto a manutenção dos critérios atuais quanto alternativas para ampliar a abrangência e a efetividade das ações afirmativas.




