O embaixador Celso Amorim, assessor especial para Assuntos Internacionais do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, participou na segunda-feira (11) do programa Roda Vida, da TV Cultura, e abordou a situação das relações entre Brasil e Estados Unidos, a política regional e a estratégia de inserção internacional do país.
Na entrevista, Amorim tratou de alegadas tentativas da Casa Branca de influenciar governos considerados progressistas na América Latina e relacionou esse quadro a uma releitura da Doutrina Monroe. Também criticou mudanças na atuação dos EUA no cenário multilateral e mencionou o que definiu como apoio norte-americano a forças de direita em escala global.
O assessor presidencial defendeu a ampliação e a diversificação de parceiros comerciais e políticos como resposta à nova conjuntura internacional. Entre os exemplos citados estão negociações no âmbito dos BRICS, aproximação com países africanos, relações com a União Europeia, acordos com o Mercosul e interlocução com nações da Ásia, incluindo integrantes da Associação de Nações do Sudeste Asiático (ASEAN).
Foram apresentados dados sobre o peso do mercado norte-americano nas exportações brasileiras: atualmente cerca de 12% do total, ante 24% no início dos anos 2000. O embaixador apontou que essa participação reduzida, somada a ações políticas internacionais, reforça a necessidade de buscar alternativas comerciais e financeiras.
No campo regional, Amorim reconheceu retrocessos na integração sul-americana nos últimos anos e ressaltou esforços para recuperar mecanismos de cooperação, como a reconstituição de conselhos sul-americanos voltados à saúde e à defesa. Mencionou ainda o Consenso de Brasília, documento assinado por 11 países no início de 2023 com metas para a integração regional.
Sobre o debate em torno da desdolarização, tema em pauta nos BRICS, o embaixador classificou como inevitável a busca por operações comerciais em moedas locais, à medida que se transformam as condições do sistema monetário internacional.
Amorim rechaçou interpretações que apresentam o governo como antagônico aos Estados Unidos, lembrando que administrações anteriores mantiveram relações positivas com Washington. Também criticou posturas internas que, segundo ele, expressam dependência excessiva em relação aos EUA e citou a defesa da dignidade nacional como princípio na formulação da política externa.