A maioria dos países da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac), entre eles Brasil, México e Colômbia, manifestou profunda preocupação com movimentações militares “extra-regionais” na área do Caribe, numa referência ao envio de navios, submarinos e efetivos aos arredores da costa venezuelana.
O comunicado foi assinado por Brasil, México, Colômbia, Bolívia, Chile, Suriname, Uruguai e Venezuela; pelos países da América Central Honduras, Guatemala, Belize e Nicarágua; e por República Dominicana, Cuba, Barbados, Antígua e Barbuda, Granada, São Cristóvão e Neves, Santa Lúcia, São Vicente e Granadinas e Dominica, do Caribe.
Não assinaram a nota Argentina, Equador, Paraguai, Peru, Costa Rica, El Salvador, Guiana, Jamaica e Trinidad e Tobago.
O texto recorda que a América Latina e o Caribe foram proclamados Zona de Paz, invocando princípios como a abolição da ameaça ou do uso da força, a solução pacífica de controvérsias, o multilateralismo e o respeito à soberania e à integridade territorial. O documento também ressalta o Tratado de Tlatelolco, que proíbe armas nucleares na região, e defende que o combate ao crime organizado e ao narcotráfico deve se dar por cooperação e coordenação regionais, no marco do Direito Internacional.
A nota foi divulgada em meio à escalada de tensão entre Estados Unidos e Venezuela. O governo norte-americano deslocou embarcações e um submarino à costa venezuelana sob o argumento de operações contra o tráfico de drogas, acusando Brasília de envolvimento do governo venezuelano com redes de narcotráfico. Especialistas consultados pela Agência Brasil, conforme noticiado, rejeitaram a classificação da Venezuela como “narcoestado”.
Na quinta-feira (4), o Departamento de Defesa dos EUA acusou aeronaves militares venezuelanas de sobrevoarem área próxima a um navio estadunidense em águas que os EUA consideram internacionais; o governo venezuelano não comentou publicamente a alegação. Em seguida, agências internacionais noticiaram, com base em fontes não identificadas, o envio de 10 caças F-35 para Porto Rico, colocados para operações contra cartéis de drogas e reforçando a presença militar dos EUA no sul do Caribe.
Na terça-feira (2), foi divulgado um vídeo de um ataque a um pequeno barco supostamente transportando drogas, incidente que teria provocado a morte de 11 pessoas; o governo venezuelano alegou uso de tecnologia de manipulação na imagem. Em resposta às tensões, o governo venezuelano iniciou convocação de civis para alistamento nas Milícias Bolivarianas, um componente auxiliar das Forças Armadas, com a previsão, segundo autoridades locais, de mobilizar até 8 milhões de pessoas.
Durante a mesma semana, o senador norte-americano Marco Rubio realizou visitas ao México e ao Equador e criticou o governo de Nicolás Maduro, questionando relatórios de agências internacionais sobre o papel da Venezuela no mercado global de drogas. Autoridades venezuelanas reagiram às declarações e às iniciativas de cooperação anunciadas entre os EUA e o Equador.
No Equador, o presidente Daniel Noboa tem adotado uma postura mais dura contra o crime e o narcotráfico e manifestado apoio às ações dos EUA no mar do Caribe próximas à Venezuela. Investigações e apreensões anteriores associaram parte das remessas de cocaína a carregamentos de banana; a polícia equatoriana estimou que cerca de 70% da cocaína contrabandeada estaria sendo introduzida em carregamentos do produto, segundo relatos da imprensa internacional.