O G20 deve publicar um texto sobre minerais críticos que sinaliza prioridade ao beneficiamento desses recursos nos países de origem. O tema está em negociação na véspera da Cúpula de Líderes do bloco, que terá lugar em Joanesburgo nos dias 22 e 23 de novembro, sob a presidência da África do Sul.
O embaixador Philip Fox-Drummond Gough, secretário de Assuntos Econômicos e Financeiros do Itamaraty, participa das negociações em Joanesburgo e acompanhou coletiva do Ministério das Relações Exteriores em Brasília. A proposta em debate contém princípios sobre extração e beneficiamento de minerais classificados como críticos.
Minerais críticos são insumos essenciais para setores estratégicos — tecnologia, defesa e transição energética — e estão sujeitos a riscos de escassez ou concentração de fornecedores. Entre eles estão lítio, cobalto, níquel e terras raras, usados em baterias de veículos elétricos, turbinas eólicas, painéis solares e semicondutores.
O Brasil detém cerca de 10% das reservas mundiais desses elementos, segundo dados do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram). Pesquisas citadas pelas autoridades apontam que a expansão da exploração para atender projetos de transição energética já provoca conflitos em novas frentes e pode acelerar impactos climáticos.
A cúpula do G20 será dividida em três sessões — duas no sábado e uma no domingo — e terá como documento principal a declaração de líderes, em elaboração por embaixadores. Há negociações em curso sobre a forma e o conteúdo do texto, com alguns países propondo apenas uma carta da cúpula em razão da ausência dos Estados Unidos; a presidência sul-africana e o Brasil defendem a emissão de uma declaração formal.
Entre os temas em negociação está a taxação dos super-ricos, proposta que tem sido defendida pelo Brasil em edições anteriores do G20 e que deve ser discutida em evento paralelo sobre desigualdades agendado para quinta-feira (20).
Para evitar que disputas políticas comprometam a declaração de líderes e o debate econômico-financeiro, as tratativas preveem uma abordagem mais sucinta sobre questões geopolíticas. Em textos preliminares, temas como guerras e conflitos aparecem tratados sobretudo em termos de princípios e direitos internacionais.
Além da declaração de líderes, os participantes devem divulgar uma declaração financeira com foco em sustentabilidade da dívida pública, facilitação e fomento de investimentos.
Agenda do presidente Lula
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva chega a Joanesburgo na sexta-feira (21) e participa das sessões do G20 nos dias 22 e 23. Estão previstas reuniões bilaterais, incluindo encontro com o presidente sul-africano Cyril Ramaphosa. Também ocorrerá, à margem da cúpula, reunião do Fórum de Diálogo Índia-Brasil-África do Sul (IBAS).
Após o G20, Lula segue para Maputo, em visita de trabalho que integra as comemorações dos 50 anos de relações diplomáticas entre Brasil e Moçambique. A viagem inclui encontro bilateral com o presidente moçambicano e a assinatura de acordos de cooperação, entre eles um termo sobre academias diplomáticas.
Relações com a África
Desde o início do terceiro mandato, em 2023, a política externa brasileira voltou a priorizar a aproximação com países africanos. Em 2023, o presidente fez visitas à África do Sul, Angola e São Tomé e Príncipe. Em 2024, houve deslocamentos ao Egito e à Etiópia e recepção ao presidente do Benin. Em 2025, o governo recebeu os presidentes de Angola e da Nigéria. Em maio deste ano, o Brasil sediou uma reunião de ministros da agricultura com participação africana.
Moçambique é hoje o maior beneficiário africano da Agência Brasileira de Cooperação (ABC), com projetos em saúde, agricultura, educação, formação profissional e iniciativas estruturantes. No roteiro em Maputo, estão previstas revisitas a programas de cooperação em agricultura, empreendedorismo, saúde, educação e combate ao crime organizado.
Comércio e investimentos
O governo brasileiro e autoridades moçambicanas buscam ampliar comércio e investimentos. Em apoio a esse objetivo, será realizado um fórum empresarial em Maputo com participação estimada entre 150 e 200 empresários de ambos os países, com painéis sobre agronegócio, indústria, inovação e saúde.
O intercâmbio comercial entre Brasil e Moçambique somou US$ 40,5 milhões em 2024, com exportações brasileiras de US$ 37,8 milhões e importações de US$ 2,7 milhões. As exportações brasileiras foram majoritariamente carnes de aves (41%), seguidas por produtos de perfumaria ou toucados (4,7%) e móveis e suas partes (5%). As importações moçambicanas registraram como principal item tabaco desqualificado ou desnervado (95%).
Na agenda em Maputo também consta a participação do presidente brasileiro no encerramento do fórum empresarial e a concessão de título de doutor honoris causa pela Universidade Pedagógica local.




